mas aqui vai o cap dois e três de letras de sangue!
Palavra
dois: adaptação
É
eu não tinha mais o que fazer, para muitas pessoas a vida acabaria ali,
acabaria agora, eu não tinha mais pai, nem mãe, - familiares para poder ter a guarda? -, não eu não tinha nenhum,
meus tios todos estavam no exterior, provavelmente nem sabem que minha mãe
morreu... Meus avos, todos mortos, irmãos eu não tinha nenhum, - primos! – eu tinha primos, é primos,
eles eram a resposta, com certeza, eu pensava, onde eu posso achar um de meus
primos? O lugar mais próximo.
Então
eu pesquisei, procurei, e continuei procurando, por muito tempo eu procurei,
com uma convicção quase louca, com uma vontade que eu nem sabia que tinha,
- desespero – essa era a palavra que eu estava procurando, era o que eu estava sentindo, ou quase.
- desespero – essa era a palavra que eu estava procurando, era o que eu estava sentindo, ou quase.
Viver
sozinho era difícil, eu tinha que continuar indo para a escola, tinha que
manter o disfarce, manter minha mentira, manter aquilo que aos poucos iria me
destruindo, só tinha passado uma semana e eu não estava suportando o fato de
que todos tinham a escrita da morte em seus corpos – derrame, facada, velhice, afogado, atropelado, hemorragia, câncer - todos eram, meus amigos, eu conhecia todos
eles, saber da morte deles não era legal, nem um pouco.
-
E então, como estão sendo seu dias? - perguntou a Mili, essa pergunta nunca me
incomodou tanto, porque tinha que ter vindo dela?
-
Bem... Vão bem... - não avia muito que falar nessa situação, só manter eles
longe disso já era o suficiente para mim.
-
É cara você tem agido meio estranho esses dias, tem certeza de que esta tudo
bem?- amigos sendo amigos, se preocupando, não deviam, mas estão sempre.
-
Não é nada... – acho que se perguntassem mais uma vez sobre isso eu iria correr
ate em casa de novo.
Eu
sai, sai dali fui pra casa, andando como sempre, e como sempre as palavras
narravam tudo aquilo que estava acontecendo a minha volta, o vermelho já estava
começando a se tornar algo comum aos meus olhos, em todos estavam, uns mais
fortes que outros, mas estão em todos.
Mas
mais uma vez algo se destacou, estava em um vermelho bem vivo no pescoço dele –
estrangulado – mas não era isso,
tinha outra coisa tinha outra cor, estava em azul, era estranho dessa vez não
era grande ou vermelho, era bem pequeno, era nas mãos, estava escrito em azul
nas mãos dele, - estrangulador -, era estranho, então eu resolvi ir atrás dele.
O “senhor estrangulado” se virou para um beco,
provavelmente um caminho para casa, ou trabalho, mesmo nessa situação eu sempre
me perguntava, - porque sempre para o
beco? – mas ele foi, e não muito surpreendentemente o “senhor mãos azuis” o
seguiu, foi ate o mesmo beco, ele gritou:
-
Ei! Lembra de mim? – senti que algo estava pra acontecer, por mais óbvio que
isso pudesse parecer.
-
Que? – respondeu o “senhor estrangulado”, acho que ele já avia entendido, ou
talvez não.
-
Acabou, você não vai fugir dessa vez, não de mim
Ele
foi em direção ao “senhor estrangulado”, pegou uma arma, nesse momento eu
pensei – arma? Não era para ser
estrangulado? – ele atirou, mas não era uma arma comum, era uma arma de
dardos, ele acertou a perna do “senhor estrangulado” que ficou tonto, então ele
somente chegou perto, as mãos na frente ate o pescoço, e o pegou, apertou
devagar, o homem dopado não podia fazer nada, aos poucos seu rosto foi ficando
avermelhado, ate chegar a um tom quase azulado, ele morreu e nem sentiu, as
letras em seu pescoço ficaram, aos poucos, sem cor, ate ficar cinza, o mesmo
ocorreu com as mãos do estrangulador.
Ele escondeu o corpo numa lata de lixo, e
estava saindo do beco, nesse momento eu me lembrei que eu estava no beco
também, - eu tenho que sair daqui! – pensei,
era o que eu tinha que fazer, então corri, como sempre eu corri, e voltei pra
casa.
Não
devia ter feito isso, minhas escolhas... eu cheguei, já tinha uma semana e o
corpo morto do meu pai ainda estava sobre a mesa, eu não suportava olhar aquilo,
mas não podia fazer nada.
Palavra
três: viajem
O
corpo do meu pai, já há quase três semanas, naquele mesmo lugar, o cheiro do
corpo em estado de putrefação estava começando a me incomodar, assim como as
memorias que eu tinha por ele, - oque
fazer? – eu me perguntei, não tinha muito oque fazer, eu não iria tocar
naquilo, então o cobri, com um plástico, e depois um pano preto, por enquanto
era isso.
Eu
já estava ficando exausto, eu não dormia a mais de três semanas, e ate este
momento eu não havia encontrado meios de contatar nenhum de meus primos, na
verdade eu não tinha achado nenhum deles, mas qualquer um já estava bom, eu
precisava sair desse lugar, não conseguia suportar o fato de isso estar
acontecendo comigo, mas estava e eu era obrigado a conviver com isso.
É
a situação já estava ficando critica, - últimos
avisos, se não pagar teremos que cortar a sua energia – eu tinha menos de
dois dias pra achar um primo, ou no mínimo algum conhecido distante, - por que eles se escondem tanto? – família
nunca vou entende-las, principalmente a minha, família estranha essa minha.
Não
saio de casa a mais de quatro semanas, meu pai ainda esta naquele mesmo lugar,
acho que eu devia ter enterrado ele, ou algo nesse gênero, mas eu não podia, se
eu fosse fazer isso os vizinhos descobririam, ou no mínimo iam desconfiar de
que algo estava errado, e o que eu menos queria agora era atenção.
Eu
não tinha tempo, nem cabeça, pra poder aturar por mais alguns dias, essa
situação, eu precisava sair ,dar uma volta, mas não podia, estava confinado em
minha casa ate chegar a possibilidade de eu sair daqui, mas nada, parecia que
eles não existiam, o que era um tanto quanto estranho.
Sem
luz, água, telefone, comida e principalmente sem internet, eu já estava sem
meios de achar qualquer familiar, agora eu só tinha a mim mesmo, eu estava
sozinho, pela primeira vez desde a morte de minha mãe, eu me senti como se não
houvesse mais ninguém, ate as palavras se silenciaram perante minha tristeza.
Arrumar
tudo, não, só arrumar o necessário, eu fiz, juntei minhas coisas, juntei o
necessário, somente aquilo que eu usaria, pois ficar aqui deixaria de ser
viável, e fui, pela primeira vez em minha vida, eu iria sair de casa, pela
primeira vez em minha vida eu não estava preso a nada, não estava sendo
arrastado para baixo com a tristeza de meu pai pela morte de minha mãe.
Os
dias estavam começando a ficar mais longos, e minha vida mais complicada, mas
por algum motivo tinha um lado bom, não havia ocorrido nenhuma morte aquela
semana, talvez um cachorro por um mendigo faminto, mas fora isso, foi uma
semana pacifica .
Bem
só no inicio, as palavras não me deixavam em paz nem um segundo, eu nunca avia
me incomodado com elas mas elas haviam se tornado um incomodo, descobri que ate animais elas registram de
quando eles iriam morrer, sair desse lugar já tinha se tornado mais do que um
objetivo, era uma necessidade.
Pedir
carona, sempre achei que seria algo difícil, ou no mínimo complicado, mas não é
bem simples na verdade, só era necessário que você levantasse o polegar, e
esperar que um carro passasse, e eu o fiz, e veio uma caminhão – caminhão nunca entendi isso, era sempre um
caminhoneiro que dava carona, era algo do destino? – ele veio, era um
caminhão vermelho, ele parou e abriu a porta:
-
Precisa de carona garoto? – falou, com uma voz estranha como se estivesse
gripado ou algo do tipo, tinha um cigarro na boca
- Errr, sim, para o mais longe daqui se
possível – eu disse, tentando ao Máximo não olhar para ele, pra não saber do
destino que o aguardava, era difícil eu detestava isso, mas a curiosidade, a
curiosidade sempre vencia, e eu olhei, - câncer,
câncer de pulmão – era um fim trágico, mas era o fim dele, e eu não podia
fazer nada, ou talvez pudesse.
Em um ato de desespero, um pouco
altruísta, eu estiquei meu braço, e agarrei aquele cigarro, e o joguei para
fora da janela.
- mas o que!? “cê ta loco mulek!?” – ele
falou, me surpreendeu acho que todos falam isso.
- caminhoneiros não devem fumar, pode
acabar causando um acidente – eu disse como justificativa, mas é bem claro que
não era essa a verdadeira
- huf – suspirou – tudo bem... Mas não
faça isso de novo esta certo? – ele falou, estranhamente calmo, acho que era
efeito do cigarro, era o que eu achava... - acho que você já percebeu... –
disse ele com um tom de voz um pouco mais baixo – eu estou morrendo, é o fim
para mim, mas eu tenho que pelo menos fazer dessa minha vida valer a pena,
então decidi ajudar as pessoas, eu não tenho muito tempo, mas muitos ainda tem
muito que viver... – ele concluiu, calou-se, assim como eu, virou a cara para
frente e continuou a dirigir.
Eu tive uma boa ajuda realmente, foi
muito bom encontrar ele, ele não fazia perguntas, não me questionava, somente
seguia em frente, era um bom homem, melhor que muitos que estão vivos, por que
segundo ele mesmo, ele já estava morto.
A minha viajem tinha começado, eu achava
que já estava começando a ficar calma minha vida, mas o pesadelo parece assustador,
ate que ele começa a se mover em sua frente... O meu pesadelo ainda era somente
um sonho calmo e confortável...
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end--
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