Chega de enrolação! Vamos ao
Previsão 1
O ar está pesado.
Talvez pelo fato de eu me sentir um pouco intimidado aqui.
Ou não. Quem sabe. Não. Eu me sinto intimidado. No entanto, ninguém aqui está
com a menor ideia de que estão fazendo isso. Ah, sim, claro... Me sinto
intimidado porque tem um monte de gente me encarando, o que particularmente me
incomoda, e muito. Podiam pelo menos encarar o professor ali do lado. Pensando
melhor, acho que seria mais interessante encarar o novo estudante que está de
pé em frente ao quadro do que o professor velhinho e carrancudo que está
vagarosamente tirando os livros da mala e arrumando-as na mesinha dele.
Saco. Se eu continuar
aqui, juro que vou inventar uma desculpa de me sentir mal e ir à enfermaria.
Pego logo um giz e escrevo meu nome no quadro. Pera. Meu
nome. Pressinto a possibilidade de alguém começar a rir ou todo mundo achar
interessante. Que se dane, só não quero continuar aqui de pé. Logo quando eu
começo a escrever, o professor se lembra da minha existência. Ele começa a
falar com uma voz fraca e pouco entusiasmada.
– Ah, sim, pessoal, esse é o aluno novo...
Como é? Ele realmente
se esqueceu de que eu estava aqui?!
Logo sinto uma vontade de bater nele se ele não fosse um
professor e também um pouco velho. Quando chega a certa idade acontece isso
mesmo. Ele não tem culpa, melhor deixar pra lá. Melhor falar meu nome e sair
daqui. Logo termino de escrever meu nome no quadro negro e falo meu nome.
– Meu nome é Gu Okami.
Após algumas perguntas, apresentações, conhecer gente, o dia
já havia passado. Saiu tudo perfeitamente bem, o que foi inesperado. A classe
já estava distraída com o professor chato que além de ser rígido nas notas, ele
demora nas aulas. Felizmente (pelo menos pra mim, para a classe isso era
péssimo, os assuntos do ano pareciam bem difíceis) ele era um professor de
matemática, uma matéria que eu tenho facilidade. Uma pessoa aleatória da sala
me apresentou à escola com o maior entusiasmo por ter uma pessoa estranha de
nome estranho com um olhar estranho sendo guiada por ele. Uma escola comum, com
aquele negócio de clubes que especificamente não me interessa, entre outras
coisas boas que eu sou indiferente. Fora isso, nada me chamou atenção. A não
ser o clube de jornalismo. Eles eram excêntricos por seu interesse em noticias
estranhas. E isso era a razão de sua popularidade. No entanto, no dia que eu
cheguei nessa escola eles publicaram uma noticia normal (pelo menos para um
noticiário). Era sobre uma serie de pessoas desaparecidas, sendo que a ultima
desaparecida foi uma garota, uma coisa que atrai a atenção sem deixar de ser
normal. Podia botar a culpa em qualquer coisa por eles terem feito algo assim.
Talvez até mesmo o aumento repentino do preço do refrigerante.
O que tinha me chamado a atenção era essa noticia. No entanto,
apenas quando eu chego em casa, ela me chama a atenção. Algo relacionado a
palavra garota e metrô. Se a palavra metrô está ali, então não devo me
preocupar. Não quero saber o que aconteceu dentro daquela lata, e mesmo que eu
quisesse saber, não poderia lembrar. Acontece.
Após chegar em casa, vejo que meu pai não chegou.
Vai chegar de
madrugada de novo?
Chegando, tenho um péssimo jantar horas depois ao ver um
bilhete do meu pai dizendo que não pode comprar a tempo os ingredientes pro jantar
então eu teria que comprar alguma coisa na rua. Eu não sabia cozinhar nada, a
solução seria macarrão instantâneo. Me sentia incomodado por ter sentido um
olhar assassino que me observara durante o dia todo.
Fiquei fazendo coisas
variadas até chegar às 10 horas. Visitei o computador de vez em quando, perdi a
fé na humanidade ao assistir o noticiário entupido de noticia ruim. Voltei ao
computador e percebi que ali só ia perder meu tempo e resolvi estudar um pouco.
Parei às 10 horas quando meu pai chegou. Nesse momento eu estava lendo um livro
no sofá da sala.
Que raro. Chegou cedo.
– Cheguei.
– Boa noite...
– O que aconteceu? Está um pouco desanimado.
– Não me sinto bem mentalmente...
–Sei.
Não, você não sabe.
Pare de falar como se soubesse de algo.
Ele vai pra cozinha. Um hábito é ele chegar em casa e ir
direto pra cozinha, olhar a geladeira, se decepcionar, procurar pela casa
inteira em busca de comida, e depois voltar à geladeira de novo, e ficar
repetindo isso discretamente até me perguntar se tem algo pra comer.
–...
Ele faz isso quase todo dia, mas mesmo assim tem preguiça
(ou seria vergonha?) de perguntar.
– Ééé... Filhão...
Se ele me chamou assim, ele quer pedir um favor.
– Tá aqui – puxo da sacolinha de plástico pega na lojinha da
esquina um pacote de outro plástico – hoje é macarrão instantâneo.
– Ah, valeu.
Não sei se ele faz isso por engraçadinho ou por preguiçoso,
mas isso não importa.
Após entediantes 3 minutos, ele chega na sala com o prato.
Quando está na metade do macarrão, ele resolve cortar o silencio, que na
verdade não estava tão silencioso assim, tinha uma TV ligada.
– Então, como foi na escola?
Ele está com uma voz um pouco mais séria agora, quem sabe
está curioso. Além disso, o que vou responder? Não aconteceu nada de
interessante lá. Só teve apresentação à classe e nada mais.
– Ah, nada fora do comum.
Ele dirige um olhar sério a mim. Decido continuar pra não
levar sermão.
– Ok, ok, teve apresentação, eu conheci o colégio...
– Hum, fez algum amigo?
– Não. Eu acho
Esse eu acho deve ter confundido ele. Continuo a ler e
quando são 10 e meia vou dormir. Meu pai já havia desmaiado no sofá. Decido não
desligar a TV pra gastar energia por motivos vingativos.
Quando estou na cama, durmo com dificuldade.
Horas depois o despertador faz um barulho infernal.
Mais algumas horas depois estou novamente no colégio. E
continua a mesma coisa por uma semana. A diferença é que na outra semana me
senti mal. Me senti dividido em dois. Tanto faz, vou pro colégio mesmo assim.
Aula de matemática.
Aula lenta, exaustiva e outras coisas ruins, segundo os
alunos. Pra mim seria uma aula divertida se não fosse por minha indiferença por
conversar com pessoas estranhas. Havia uma chance de eu me integrar no circulo
social da sala, que era todo mundo ver meu talento em matemática. O pessoal
acharia estranho, e interessante. Eu não queria isso. Viria uma avalanche de
gente pedindo pra eu ensinar matemática. Era uma pequena chance, se o professor
me mandar fazer alguma questão no quadro. Isso seria péssimo.
O professor coloca uma questão de alto nível no quadro. Ele
se vira para a sala prestes a escolher alguém. Desesperadamente todos tentam
não chamar atenção, pois de jeito nenhum queriam fazer aquilo. O professor olha
pra mim.
Droga.
– Okami.
Respondo de modo calmo, pra evitar suspeitas de que estou
furioso.
– Sim?
– Pode vir ao quadro e resolver a questão 7?
Senti que os alunos estavam com pena de mim. Pra mim, o
problema não era a questão em si, mas como a classe ia me ver depois dessa.
Ok, calma...
– Tudo bem.
Me levanto pra terminar logo com isso, mas logo que dei o
primeiro passo senti como se uma bala atingisse o meu corpo. O tempo parou. Não
conseguia esboçar nenhuma reação. Senti meu corpo tremendo, parando, tremendo,
e parando de novo. Senti como se fosse dividir em dois. Um pensamento chega a
minha cabeça.
“Chegou a hora.”
Não entendi. Alguém, não, espera... Acho que eu falei...
Não, tenho certeza de que alguém falou. O que foi isso agora? Me sentia
exausto. O que estava acontecendo? De repente, minha visão fica turva. É nessas
horas que normalmente uma pessoa desmaia. No entanto isso não aconteceu. Minha
visão ficou turva, mas logo depois se clareou. Eu via tudo. Senti que estava
migrando de visão. Uma visão alegre, outra triste, Não havia nada além...
Não. Havia algo. Algo se movendo. Se movendo com uma
intenção assassina de me acertar. A origem daquela coisa deformada de papel era
de um aluno que queria acertar o amigo, mas acaba errado e ela vem em direção a
mim. Ela continuava vindo.
Pera...
Estava chegando mais perto.
Tem algo bem errado
aqui...
Ela continuava se movendo impiedosamente em minha direção e
não parecia ter intenção de parar, caso a bolinha de papel tivesse uma. Mas a
coisa que estava errada era de onde eu estava vendo aquela bolinha. Eu estava
vendo do fundo da sala, em uma cadeira onde supostamente um cara chamado Tojiru
deveria estar. E tinha algo mais estranho ainda. Eu estava olhado para mim mesmo,
e parecia de que eu tinha jogado uma bolinha de papel em mim mesmo.
Por que... Estou vendo
tudo isso?... Eu deveria estar vendo?
Além disso, eu conseguia ver outras coisas. Eu estava vendo
tudo. Uma pessoa assustada correndo para alcançar algo. Um cara de uma escola
em uma cidade no interior da Alemanha tentando fazer um plano para se declarar
à garota ao lado. Uma pessoa fria que não se importava em ser ignorada que se
interessou pelo fato de eu ter se desviado do objeto de papel sem mesmo olhar
para trás. Espera.
Eu... Fiz isso?
Não. O tempo continuava parado. Tinha algo errado aqui. Eu
podia ver como ela estava vendo. No entanto o que ela estava vendo não estava
acontecendo. Tinha algo extremamente errado ali.
Até parece que ela vê
o...
Não consigo completar o pensamento. Volto minha atenção para
minha própria visão. O tempo continuava parado. Eu não entendia o que acabou de
acontecer. Mas eu continuava em pé e a bolinha de papel estava vindo em direção
a mim.
Inesperadamente, o tempo volta a andar. Nesse momento, senti
como todas minhas forças acabassem. De
repente começo a me mover. Assim. Do nada. Percebi que não conseguia me mover
por conta própria, mas me corpo se moveu sozinho. Desvio da bolinha e ela
atinge o professor.
!!!
Logo após meu corpo fazer isso sozinho eu acabo virando para
trás. Alguém no Fundo da sala. Não era o Tojiru. Era uma garota de cabelos
longos e escuros. Sorria enquanto olhava para mim. Lembrei. O metrô. Sim,
lembrei de algo do metrô. Aparentemente encontrei ela no trem. Ela sabia de algo? Ela estava me encarando.
Ainda consigo ver tudo. Logo tive curiosidade de saber o que ela estava vendo.
Ela descobriu algo. Algo relacionado com eu desmaiar.
O quê?!
Percebo que isso iria realmente acontecer. Não sei o que
diabos aconteceu aqui, mas percebi que mesmo que eu soubesse, não iria me
satisfazer. Eu vou em direção ao chão e caio.
Acho que nesse ponto eu desmaio. Sempre me perguntei o que
acontece primeiro: o desmaio ou a queda, mas percebi que eram os dois ao mesmo
tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário